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Três contos orientais

  • Foto do escritor: Carlos Neiva
    Carlos Neiva
  • 30 de jul. de 2019
  • 5 min de leitura

Atualizado: 19 de jun. de 2021


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Certa vez, Yoshiro Takumi foi ter com seu avô, o velho Satoshi. O velho estava cuidando do jardim e o jovem foi fazer-lhe companhia. Yoshiro era um bom rapaz, era respeitoso com os mais velhos, e gostava de ficar na companhia de seu avô, fazendo perguntas e aprendendo. O jovem ainda era um aluno exemplar, tirando boas notas e comportando-se bem, sendo um orgulho para seus pais.


Takumi-kun questionou o avô da sua impopularidade. Não importava quantas ações boas fazia, era como se atraísse a inveja dos colegas e o receio dos professores. Sua intuição o proibia de agir mal apenas para adaptar-se, mas aquilo já o incomodava.


Enquanto ainda mexia na terra ao redor de uma flor, Satoshi disse: “Se uma rã é atirada na água quente, foge de imediato em um salto, mas se, ao contrário, se ferve a água aos poucos, ela permanece ali até que o calor da água a mate”.


Apesar de sagaz, o jovem Yoshiro não foi capaz de entender o que seu sábio avô lhe disse. Então, Satoshi deixou o serviço, lavou as mãos e sentou-se no jardim com o jovem. O jovem Takumi estava atento e o velho lhe contou três histórias:

Era uma vez um jovem espadachim que se inscreveu na escola de um mestre medíocre chamado Hasashi. O jovem não tinha muita instrução, mas era dedicado e tinha talento natural para as artes marciais. O seu mestre passava exercícios e ele fazia todos com garra e determinação, não perdendo seu tempo com descansos e futilidades, mas cumprindo tudo à risca fizesse sol ou chuva.


Com essa determinação pessoal o jovem progrediu de uma forma extraordinária, tornando-se o melhor aluno de seu mestre. Hasashi, no entanto, temia que seu aluno se tornasse melhor do que ele. Mas o que era um receio para Hasashi, era uma realidade para seus outros alunos, que detestavam o prodigioso jovem e comentavam entre si coisas desagradáveis sobre o jovem.


Naquele ano, o shogun decidiu fazer um torneio de espadachins, a fim de descobrir talentos para a guarda imperial. O daimyo logo ordenou que Hasashi enviasse seu melhor aluno para a competição. Assim, Hasashi anunciou aos alunos que faria um teste e o melhor deles venceria.


O teste consistia em que cada espadachim lutasse por si contra os demais de uma só vez. Hasashi disse que um bom espadachim deveria conseguir enfrentar um exército. O ato não parecia honesto, mas era o mestre quem ordenava. Os alunos se colocaram no tatame e puseram a enfrentar-se mutuamente. Como era de se esperar, todos investiram contra o jovem prodigioso. Ele bem que conseguiu enfrentar cerca de uns dez, mas acabou sendo derrotado pelos muitos inimigos que o cercavam. Derrotado o melhor aluno, eles começaram a se enfrentar pouco a pouco até que se escolhesse um outro representante daquela região.


O jovem sabia que uma injustiça havia sido cometida, mas não se ressentiu contra o mestre. Ao contrário, intensificou seus treinos. Desejava ele, no ano seguinte, vencer sozinho um grande grupo de oponentes.

Contam os antigos que Fujin estava irritado com um pequeno vilarejo e decidiu em sua fúria que iria fazer ruir todas as casas e afundar em declínio todos que ali habitavam. O vilarejo era pequeno e as casas eram de madeira e papel. O kami esperou que a noite caísse e convocou as tempestades, abriu de uma fez sua sacola e deixou que fortes ventos caíssem sobre o povoado.


Ao sentir a perigosa tempestade, os aldeões saíram todos de sua casa, foram até um posto de segurança e se abrigaram. Amanhecendo o dia, praguejaram contra os céus e tão logo voltaram a edificar suas casas.


Ao notar que não tinha alcançado seu objetivo, o deus irou-se ainda mais. Fujin aguardou que construíssem suas casas novamente. Na verdade, o deus não precisou aguardar muito, pois eles o fizeram diligentemente. Quando o vilarejo estava como antes, Fujin descarregou sua fúria com a maior força que podia, escancarando a boca de sua sacola.


Mais uma vez, tão logo sentiram a tempestade, os aldeões foram ao abrigo, que dessa vez estremeceu, mas não se abalou. Pela manhã, contemplaram o estrago muito maior, praguejaram contra os deuses e tornaram a edificar tudo novamente.


Vendo que seus esforços eram inúteis. Fujin pôs-se a refletir sobre suas falhas e chegou a uma conclusão. Aguardou por muito tempo até que os aldeões se esquecessem dos eventos ocorridos e, quando julgou ser a hora, apontou sua sacola contra o vilarejo. Mas, dessa vez, não o abriu de imediato, mas abriu bem pouquinho, gerando uma brisa. Deixou a brisa correr por algumas horas e depois abriu mais um pouquinho fazendo uma ventania. Da mesma forma, o deus deixou a ventania correr por algum tempo e abriu mais um pouco a sacola, fazendo um vento forte. E assim foi fazendo até que havia uma terrível tempestade sobre a aldeia. Os aldeões, dessa vez, não tinham se alardeado, ficando cada qual em suas casas que o kami derrubou com fortes ventos. No outro dia, não havia nenhuma praga contra os céus. Todos estavam soterrados. Fujin conseguiu sua vingança e grande foi a ruína daquele vilarejo.

Há muito tempo atrás, havia um homem que se considerava o mais rápido de todos. De fato, sua agilidade era impressionante e ele costumava desafiar a todos para que o vencessem na corrida. Cansado de derrotar todos os homens, decidiu que deveria derrotar também os animais, mostrando a todos a sua habilidade sobre todos os seres.


O homem então desafiou o tigre que sabia ser um grande predador e rápido oponente. O tigre aceitou o desafio, pois também estava confiante. Eles delimitaram o espaço para a corrida e deram a largada. O tigre deu um grande saltou, tomando a dianteira e seguiu a longos passos a corrida, mas o homem conseguiu ultrapassá-lo e ganhar a corrida, para a admiração de seu rival.


Com isso, o homem começou a se gabar de ser o mais rápido dos seres, pois depois de ter vencido o tigre, nenhum outro animal aceitava o seu desafio. Entretanto, essas histórias chegaram na toca da raposa que ficou interessada naquilo tudo que vinha acontecendo. A raposa procurou o homem e disse que não acreditava que o homem pudesse ser tão rápido, então o homem a desafiou. A raposa disse que não conseguiria correr bem, mas serviria para que ela visse o quão rápido ele era.


Assim como com o tigre, o homem e a raposa prepararam a trilha e se colocaram na linha de largada. O homem começou devagar e foi acelerando, como fizera com o tigre. A raposa o acompanhava às vezes mais atrás às vezes lado a lado. Quando se aproximou da chegada, a raposa, que estava atrás do homem, deu um grande salto, passando na sua frente e atravessando a linha de chegada antes dele. Assustado, o homem questionou com a raposa de onde vinha aquela velocidade. A raposa respondeu que a velocidade era a mesma do tigre, mas o salto deveria ser reservado para o fim, quando não fosse mais possível alcançá-la.

O velho Satoshi perguntou ao neto se ele era capaz de compreender aquilo tudo, mas o jovem Yoshiro Takumi estava perplexo. De fato, o sucesso repentino espanta os homens e causa sua inveja, mas a conquista lenta e gradual não é notada como ameaça, antes disso, é louvada pelos demais.

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