Borges, um peregrino em Buenos Aires
- Carlos Neiva

- 16 de jul. de 2019
- 12 min de leitura
Atualizado: 17 de jul. de 2019

Quando o assunto é literatura argentina, um dos maiores referenciais é sem dúvidas, Jorge Luís Borges. Ele pode ser famoso por seus ensaios e contos, mas sua poesia é de uma qualidade excepcional. Seus poemas são cheios de uma filosofia existencial, de uma mítica metafísica e sobretudo de conexões poéticas que deixam qualquer leitor saboreando por horas um verso. Esse talento se nota em versos como “de que a despecho de que somos / las gotas del río de Heráclito, / perdure algo en nosotros: / inmóvil”ou "el muerto no es un muerto: es la muerte. / Como el Dios de los místicos / de Quien deben negarse todos los predicados” ou ainda "Cada arbolito es una selva de hojas".
Borges iniciou sua carreira bem jovem. Quando completou trinta anos, já havia lançado seis livros, três de poesias e três de ensaios, e jáestava desenvolvendo outros. Esses três livros de poesia, que configuram o encadernado feito no Brasil intitulado Primeira poesia se comunicam por tratarem-se de poesias de um peregrino que vagueia pela noite na capital argentina repleto de reflexões existências e metafísicas. Mais velho, o próprio Borges vai revisar esses poemas e vai modificar os excessos de sua juventude, mas ainda há a estrutura principal ali, afinal, o jovem Borges e o já experiente escritor são o mesmo.“[...] senti que aquele rapaz que escreveu em 1923 já era, essencialmente – que significa essencialmente? –, o senhor que agora se resigna e corrige. Somos o mesmo; ambos descremos do fracasso e do sucesso, das escolas literárias e de seus dogmas; ambos somos devotos de Schopenhauer, de Stevenson e de Whitman”.
O primeiro poema que tem por função abrir a obra é “Las Calles” (As Ruas), o poema já estabelece a íntima ligação do autor com a capital, Buenos Aires, aponto de suas ruas serem suas entranhas, suas veias.
Las calles de Buenos Aires ya son mi entraña. No las ávidas calles, incómodas de turba y ajetreo, sino lãs calles desganadas Del barrio, casi invisibles de habituales, enternecidas de penumbra y de ocaso y aquellas más afuera ajenas de árboles piadosos donde austeras casitas apenas se aventuran, abrumadas por inmortales distancias, a perderse em la honda visión de cielo y llanura. Son para el solitario una promesa porque millares de almas singulares las pueblan, únicas ante Dios y en el tiempo y sin duda preciosas. Hacia el Oeste, el Norte y elSur se han desplegado -y son también la patria- las calles; ojalá en los versos que trazo estén esas banderas.
O que faz Borges sentir-se tão unido com sua cidade? Com certeza não é um patriotismo arraigado, pois o poeta revelou-se já no prólogo um descrente. Um patriota acredita em seu país. O que vincula Borges à sua cidade é o seu caminhar existencial. É o vagar de quem caminha em seus questionamentos interiores enquanto caminha pelas ruas da cidade escurecida. A forma como vagueia sem rumo em seu íntimo une-se a forma como vagueia sem rumo pelas ruas escuras da capital. A forma como a noite escurece a paisagem é semelhante à penumbra existencial em que o eu-lírico caminha. O cenário exterior reflete, portanto, o mundo interior dele.
Mas que sombras são essas de tomam o interior do jovem Borges? O jovem Borges já era devoto de Schopenhauer, o jovem Borges já era alguém que se angustiava com a filosofia. Essa filosofia fica muito bem expressa em seu poema “Amanecer”:
En la honda noche universal que apenas contra dicen los faroles una racha perdida ha ofendido las calles taciturnas como presentimiento tembloroso de lamanecer horrible que ronda los arrabales desmantelados del mundo. Curioso de la sombra y acobardado por la amenaza del alba revivíla tremenda conjetura de Schopenhauer y de Berkeley que declara que el mundo es una actividad de la mente, un sueño de las almas, sin base ni propósito ni volumen. Y ya que las ideas no son eternas como el mármol sino inmortales como un bosque o unrío, la doctrina anterior asumió otra forma en el alba y la superstición de esa hora cuandola luz como una enredadera va a implicar las paredes de la sombra, doblegó mi razón y trazóel capricho siguiente: Si estánajenas de sustancialas cosas y si esta numerosa Buenos Aires no es más que unsueño que erigenen compartida magia las almas, hayun instante en que peligra desaforadamente su ser y es el instante estremecido del alba, cuando son pocos los que sueña nel mundo y sólo algunos trasnochadores conservan, cenicienta y apenas bosquejada, la imagen de las calles que definirán después con los otros. ¡Hora en que el sueño pertinaz de la vida corre peligro de quebranto, hora en que lesería fácil a Dios matar del todo Su obra!
Pero de nuevo el mundo se ha salvado. La luz discurre inventando sucios colores y con algún remor dimiento de mi complicidade nel resurgimiento del día solicito mi casa, atónita y glacial enla luz blanca, mientra sun pájaro detiene el silencio y la noche gastada se ha quedado en los ojos de los ciegos.
Nesse poema, Borges se baseia na filosofia de Berkeley e de Schopenhauer. George Berkeley (1685-1753) foi um idealista irlandês que desenvolveu um pensamento chamado “imaterialista”, isso é, ele negava a matéria, acusando-a de ser mera criação de quem pensa. Como piedoso clérigo protestante, chegou a afirmar que tudo era um pensamento divino. O alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) vai trabalhar a partir dessa ideia de Berkeley e se questionar sobre o sono e a vigília. O que é sonho e o que é realidade? Como você tem certeza de que agora está acordado e não dormindo? Esse pensamento também influenciou outros literatos, como o autor de Alice através do Espelho e o que ela encontrou lá, que assinava sob o pseudônimo de Lewis Carroll, onde a rainha diz à pequena Alice que todos são um sonho do Rei Vermelho e tão logo ele acordasse, todos desapareceriam.
Se essa realidade é irreal, o poeta e a cidade não são reais, e quando a noite chega ao fim, tudo pode ser destruído, mas o eu-lírico e outros “trasnochadores” vão dormir, sonhando a cidade durante o dia, mantendo tudo ainda existindo. A forma como o poeta utiliza dessas colocações filosóficas para explicar sua angústia que o faz caminhar o faz noctívago, faz com que sua angústia tenha um papel integral naquela sociedade da qual ele foge pela noite. Ele se afasta dela, pois essa é a sua missão para manter Buenos Aires existindo. “Yo soy el único espectador de esta calle; si dejara de verla se moriría”.
Não há nenhum drama mais interessante à poesia do que o do poeta que se sente destacado e, ao mesmo tempo, intercalado da sociedade. Sua angústia o isola e ele reflete, mas compõe sua obra para aqueles dos quais se afastou.
Como noctâmbulo, o poeta caminha pela cidade escura e calada. Contempla o céu e as estrelas, mas sobretudo o silêncio. É nessa atmosfera que Borges encontra o sentimento poético, como é descrito em “El sur”:
Desde uno de tus pátios haber mirado las antiguas estrellas, desde el banco de la sombra haber mirado esas luces dispersas que mi ignorancia no ha aprendido a nombrar ni a ordenar em constelaciones, haber sentido el círculo del agua en el secreto aljibe, el olor del jazmín y la madre selva, el silencio del pájaro dormido, el arco delzaguán, la humedad - esas cosas, acaso, son el poema.
Isso é o que o poeta busca para ficar em paz com suas reflexões, e assim caminha por ruas desconhecidas e escuras da Buenos Aires adormecidas. Essa atitude é meio mística, como se fosse um ermitão buscando a solidão para estar em um momento de transcendência. Parece com um Santo Antão sozinho no deserto, um Buda em meditação plena, um Shiva Nataraja olhando para dentro de si apesar da dança transformadora. Diante dessa metafísica, o poeta faz uma comparação de sua jornada pelas ruas desconhecidas com a jornada de Cristo subindo o Gólgota, monte onde foi crucificado após toda a via sacra com a cruz nas costas, no poema “Calle Desconocida”.
Penumbra de la paloma llamaron los hebreos ala iniciación de la tarde cuando la sombra no entorpece los pasos y la venida de la noche se advierte como una música esperada y antigua, como un grato declive. Enesa hora en que la luz tiene una finura de arena, dicon una calle ignorada, abierta em noble anchura de terraza, cuyas cornisas y paredes mostraban colores tenues como el mismo cielo que conmo via el fondo. Todo -la medianía de las casas, las modestas balaustradas y llamadores, talvez una esperanza de niña em los bacones- entro en mi vano corazón con limpidez de lágrima. Quizá esa hora de la tarde de plata diera su ternura a la calle, haciéndo la tan real como un verso olvidado y recuperado. Sólo después reflexioné que aquella calle de la tarde era ajena, que toda casa es un candelabro donde las vidas de los hombres arden como velas aisladas, que todo inmediato paso nuestro camina sobre Gólgotas.
Ao ver o entardecer, o eu-lírico se comove, pois o encobrir de sombras sobre a rua a faz real. Afinal, é ao cair da noite que os homens sonham, tornando tudo real, como descrito em “Amanecer”. Mas o elemento deste poema passa de filosófico para religioso. Ele inicia o poema com referência ao povo hebreu e termina com referência a Jesus Cristo. Utilizando-se da linguagem judaico-cristã do antigo e novo testamentos sobre a caminhada espiritual, cuja a do povo hebreu foi no deserto ao entardecer (quando Moisés abre o Mar Vermelho) e a de Cristo ao escurecer de um eclipse (às três horas, toda terra escureceu antes de ele expirar). Borges vê nesse entardecer que toda a vida é uma caminhada espiritual e se insere nessa narrativa transcendente como caminhante da noite. Sua caminhada vai de uma tarde a outra, como expressou em “Singladura”: “Cada tarde es um puerto”. Por isso é que se emocionou com o entardecer em “Afterglow”:
Siempre es conmovedor el ocaso por indigente o charro que sea, pero más conmovedor todavía es aquel brillo desesperado y final que herrumbra la llanura cuando el sol último se ha hundido. Nos duele sostener esa luz tirante y distinta, esa alucinación que impone al espacio el unánime miedo de la sombra y que cesa de golpe cuando notamos su falsía, como cesan los sueños cuando sabemos que soñamos.
É na noite que o poeta se realiza, seus hábitos são noturnos. É a noite quem faz o cenário de seus versos. E isso ele deixa transparecer em vários poemas, como em “Casi Juicio Final” ao afirmar “La noche es uma fiesta larga y sola” e também em “Caminata” quando mostra o império da noite sobre a mediocridade: “Grandiosa y viva / como el plumaje oscuro de un Ángel / cuyas alas tapan el día, / la noche pierde las mediocres calles”.
O poeta caminha pela noite por muito poemas. Caminha por sua jornada filosófica e espiritual. Por que caminha? O que teme? A sua angústia é a exata angústia da filosofia existencial e de toda forma de espiritualidade: a morte. O poeta vê um mundo efêmero, como se nota nos versos “El tempo está viviéndo me”. A angústia de que se passará é o objeto de suas reflexões, ou ao menos o motivo delas, por isso faz seu “Remordimiento por cualquier Muerte”:
Libre de la memoria y de la esperanza, ilimitado, abstracto, casi futuro, el muerto no es un muerto: es la muerte.
Como el Dios de los místicos, de Quien deben negarse todos los predicados, el muerto ubicuamente ajeno no es sino la perdición y ausencia del mundo.
Todo se lo robamos, no le dejamos ni un color ni una sílaba: aquí está el patio que ya no comparten sus ojos, allíla acera donde acechó sus esperanzas.
Hasta lo que pensamos podría estarlo pensando él también; nos hemos repartido como ladrones el caudal de las noches y de los días.
Assim, diante de uma vida cujos dias são contados, o poeta caminha. Seus três primeiros livros são basicamente sobre caminhadas noturnas. Nessas caminhadas surgiram seus versos, nessas caminhadas surgiram seu propósito.
Mas uma coisa ainda é preciso apontar, há mais um quê existencial aí. Acontece que os espaços urbanos vem tornado nossa vida agitada e, assim, angustiante. Os grandes centro urbanos são um monstro que devora seus habitantes, para usar uma metáfora do romancista goiano Miguel Jorge. As cidades representam o espaço de nossos tormentos e na ficção, tem construído esse cenário de paranóia, medo, angústia e violência que atormenta as personagens, como bem tem apontado o Prof. Dr. Ewerton de Freitas Ignácio em suas pesquisas sobre a relação de campo e cidade na literatura.
O ponto chave é: a penumbra de Buenos Aires representa a penumbra existencial do eu-lírico ou ele busca no silêncio da noite uma paz externa diferente da confusão diurna? Há uma fuga nessa caminhada? Sem dúvidas! No primeiro milênio da era cristã, o monaquismo se desenvolveu exatamente porque homens e mulheres iam para o deserto em busca de sossego para que pudessem enfrentar suas tentações e aproximar-se de Deus.
Borges é o místico existencialista que contempla o vazio da morte com coragem e angústia. Nessa postura, sua poesia torna-se uma poesia de contemplação, mas o místico-poeta-filósofo precisa da solidão eremítica do deserto (com o perdão da redundância, já que eremita vem do grego eremós, que quer dizer deserto) e vai se refugiar no deserto da noite.
Angustiados pelo cenário urbano, as personagens tendem a buscar refúgio no campo, como as personagens de Pão Cozido debaixo da Brasa, de Miguel Jorge no bosque ou o desconhecido de Noite, de Érico Veríssimo, no parque da cidade. O eu-lírico Borges contempla o cenário natural distante no horizonte, a pampa, bioma típico argentino. Como canta em “Al horizonte de un suburbio” do livro Luna de enfrente (1925):
Pampa: Yo diviso tu anchura que ahonda las afueras, yo me estoy desangrando en tus ponientes.
Pampa: Yo te oigo enlastenaces guitarras sentenciosas y en altos benteveos y en el ruido cansado de los carros de pasto que vien en del verano.
Pampa: El ámbito de un patio colorado me basta para sentirte mía.
Pampa: Yo sé que te desgarran surcos y callejones y el viento que te cambia. Pampa sufrida y macha que ya estás en loscielos, no sé si eres lamuerte. Sé que estás en mi pecho.
Mas diante da paz transmitida pela pampa, no horizonte do subúrbio, isto é, bem distante da capital por onde percorre – sendo assim essa visão longínqua um resultado de sua busca. O poeta quer apenas o deserto eremítico, como dito em “Cercanías”: “He nombrado los sitios / donde se desparramala ternura / y estoy solo y conmigo”.
Nessa procura pela solidão de sua reflexão místico-filosófica, o poeta também sabe encontrar seu deserto em um pequeno espaço natural em meio a cidade, um simples jardim. É o que traz nos versos de “Curso de los Recuerdos”, do livro Cuaderno San Martín (1929):
Recuerdo mío del jardín de casa: vida benigna de las plantas, vida cortés de misteriosa y lisonjeada por los hombres.
Palmera la más alta de aquel cielo y conventillo de gorriones; parra firmamental de uva negra, los días del verano dormían a tu sombra.
Molino colorado: remota rueda laboriosa en el viento, honor de nuestra casa, porque a las otras iba el río bajo la campanita del aguatero.
Sótano circular de la base que hacías vertiginoso el jardín, daba miedo entrever por una hendija tu calabozo de agua sutil.
Jardín, frente ala verja cumplieron sus caminos los sufridos carreros y el charro carnaval aturdió con insolentes murgas.
El almacén, padrino del malevo, dominabala esquina; pero tenía cañaverales para hacerlanzas y gorriones para la oración.
El sueño de tus árboles y elmío todavía en la noche se confunden y la devastación de laurraca dejó un antiguo miedo en mi sangre.
Tus contadas varas de fondo se nos volvieron geografía; un alto era «lamontaña de tierra» y una temeridad su declive.
Jardín, yo cortaré mi oración para seguir siempre acordándome: voluntad o azar de dar sombra fueron tus árboles.
Assim como o professor Ewerton Ignácio aponta em Noite sobre a agitação que o indivíduo desconhecido sente ao andar pela cidade passa ao adentrar o parque da cidade e assim, conseguir se encontrar um pequeno espaço natural, rural, em meio ao espaço urbano, assim o eu-lírico no poema acima consegue um pouco de tranquilidade ao se deparar com o jardim para o qual compõe seus versos, ou sua oração, como colocado na última estrofe. Isso se dá pois o cenário urbano é artificial, e concentra os medos e receios dos homens. A cidade está cheia de marcações de violência, miséria, desigualdade, agitação e competitividade e isso tudo gera angústia no homem moderno. Assim, um regresso ao espaço urbano pode trazer novamente a paz ao coração agitado, pois a simplicidade, lentidão e calmaria da natureza são um refúgio. Sem contar, é claro, que essa calmaria e fuga da agitação se alinha a ideia de eremitério apresentada anteriormente.
Mas há algo mais em Borges, há algo que ele vê na natureza que os demais não veem: as sombras. Ele afirma nos últimos versos: “voluntad o azar de dar sombra / fueron tus árboles”. Há um quê de misterioso e sombrio nas preferências do poeta que vaga pela noite.
Borges gosta das sombras da noite e da calmaria do campo, mas, ao seu ver, é tudo uma coisa só, como expresso nos versos de “Campos atardecidos”: “Según va a noche ciendo / vuelve a ser campo el pueblo”. Por que o cair da noite transforma o povoado em campo? Pois ao cair da noite, a agitação do espaço urbano passa, cada um volta para sua casa e as ruas da cidade passam a passar calmaria, sendo possível contemplar a lua e as estrelas em um caminho eremítico de reflexão filosófica existencial.
Assim, o poeta caminha pelas ruas de Buenos Aires e vai tecendo sua poesia, uma poesia existencial e mística, mas uma poesia da cidade, ao passo que já não é possível distinguir Borges e a capital argentina. Isso talvez fique melhor expresso nos versos do poema “Arrabal”:
Esta ciudad que yo creí mi pasado es mi porvenir, mi presente; los años que he vivido en Europa son ilusorios, yo estaba siempre (y estaré) en Buenos Aires.
Esse caminhar em busca de uma iluminação pode ter culminado em uma maturidade poética no Borges mais velho que corrigia os excessos da sua juventude. Mas a etapa do deserto serve exatamente para isso, para se romper com o eu passado. Sidarta Gautama pós deserto é alguém iluminado; Shiva pós Nataraja não é a destruição, mas o início; Saulo de tarso pós o deserto é o mais fervoroso dos apóstolos. Não é essa uma etapa da jornada do herói? O Borges mudou, mas sua mudança dependeu dessas andanças noturnas. Por isso diz no prólogo de Fervor de Buenos Aires: “Naquele tempo eu buscava os entardeceres, os arrabaldes e a desventura; hoje as manhãs, o centro e a serenidade”. Não que o Borges velho tenha atingido o nirvana, mas sem dúvidas resolveu muitas de suas angústias juvenis. Não foram todas, ou não teria mais escrito literatura, mas mostrou-se depois um poeta da serenidade, um poeta iluminado.
Assim, os primeiros livros de Borges tem todos seu valor poético, filosófico, espiritual e artístico, mas compõe com os demais uma caminhada do próprio autor que continuou em outros livros. Mas é claro que não eram obras completas em si, eram livros sobre caminhadas, começou em caminhada e terminou em caminhada. Agora, Borges caminhou para o além, mas continua a caminhar cada novo leitor por “las calles de Buenos Aires”.








Comentários